05 setembro 2016

O Abraço Corporativo



Quem vê “O abraço corporativo” à primeira vista se depara com Ary Itnem, um consultor de RH representante da Confraria Britânica Do Abraço Corporativo (CBAC). Ary defende uma teoria que faz uma crítica à falta de interação humana dentro das corporações, denominada Teoria Do Abraço, onde afirma que um abraço pode mudar o dia de um funcionário.
Quando se pensa que o filme é sobre a supervalorização das redes sociais em relação às interação real, o filme mostra sua real jogada. “O abraço corporativo” não é sobre a falta de humanização dos ambientes institucionais, é na verdade uma grande crítica ao modo de se produzir notícia no Brasil.
Ary Itnem é um personagem interpretado pelo ator Leonardo Camillo. O projeto critica o “até onde vão as apurações dos veículos brasileiros”. A criação de um website que por si só já deixava um certo rastro de dúvidas. A falta de contato com outras pessoas que pudessem falar sobre Itnem, clientes ou os representantes internacionais da CBAC.
O mais interessantes é que tudo poderia ser descoberto por qualquer jornalista que tivesse interesse real na apuração da matéria. No website de Ary Itnem, uma referência à um documento aberto ao público disponível no Cartório de Registros de Notas de São Paulo.
No cartório, um documento redigito pelo idealizador e produtor do projeto, o jornalista Ricardo Kauffman, onde afirma que tanto a CBAC, como Ary não passavam de uma mentira. Estava tudo ali, ao alcance de quem quisesse, e ninguém o fez.
A matéria sobre Ary Itnem e sua Teoria do Abraço Corporativo foram veiculadas em diversos jornais tradicionais do Brasil. Veículos considerados de credibilidade justamente por suas matérias bem apuradas.  Mas quem desconfiaria de um sujeito que fala com tanta propriedade sobre determinado assunto?
Independente do grau de relevância da matéria, toda informação deve ser apurada de forma profunda e completa. Esse é o papel da jornalista na sociedade e se esse não cumpre seu papel, quem irá cumprir? Seria como um médico que não atende pacientes. Seria o caso das faculdades de jornalismo não ensinarem a passar na prova e sim ensinarem a serem jornalistas por amor.
A rotina corrida e os prazos de entrega não impendem ninguém de fazer uma matéria de qualidade, desde que o jornalista realmente queira fazê-la. A maior indignação não é pelo tanto de matérias que saíram a respeito de um personagem inventando, mas sim que a grande farsa estava o tempo todo ao alcance e não foi descoberta.

Um filme genial que aborda várias discussões, desde a crítica maior – a falta de apuração – até uma crítica secundária, que seria a desumanização dos ambientes corporativos. Sem dúvida, uma aula e tanto sobre o “ser jornalista”. 

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