Quem vê “O
abraço corporativo” à primeira vista se depara com Ary Itnem, um consultor de
RH representante da Confraria Britânica Do Abraço Corporativo (CBAC). Ary
defende uma teoria que faz uma crítica à falta de interação humana dentro das corporações,
denominada Teoria Do Abraço, onde afirma que um abraço pode mudar o dia de um
funcionário.
Quando se pensa
que o filme é sobre a supervalorização das redes sociais em relação às
interação real, o filme mostra sua real jogada. “O abraço corporativo” não é
sobre a falta de humanização dos ambientes institucionais, é na verdade uma
grande crítica ao modo de se produzir notícia no Brasil.
Ary Itnem é
um personagem interpretado pelo ator Leonardo Camillo. O projeto critica o “até
onde vão as apurações dos veículos brasileiros”. A criação de um website que
por si só já deixava um certo rastro de dúvidas. A falta de contato com outras
pessoas que pudessem falar sobre Itnem, clientes ou os representantes
internacionais da CBAC.
O mais
interessantes é que tudo poderia ser descoberto por qualquer jornalista que
tivesse interesse real na apuração da matéria. No website de Ary Itnem, uma referência
à um documento aberto ao público disponível no Cartório de Registros de Notas
de São Paulo.
No cartório,
um documento redigito pelo idealizador e produtor do projeto, o jornalista Ricardo
Kauffman, onde afirma que tanto a CBAC, como Ary não passavam de uma mentira. Estava
tudo ali, ao alcance de quem quisesse, e ninguém o fez.
A matéria
sobre Ary Itnem e sua Teoria do Abraço Corporativo foram veiculadas em diversos
jornais tradicionais do Brasil. Veículos considerados de credibilidade justamente
por suas matérias bem apuradas. Mas quem
desconfiaria de um sujeito que fala com tanta propriedade sobre determinado
assunto?
Independente do
grau de relevância da matéria, toda informação deve ser apurada de forma
profunda e completa. Esse é o papel da jornalista na sociedade e se esse não
cumpre seu papel, quem irá cumprir? Seria como um médico que não atende
pacientes. Seria o caso das faculdades de jornalismo não ensinarem a passar na
prova e sim ensinarem a serem jornalistas por amor.
A rotina
corrida e os prazos de entrega não impendem ninguém de fazer uma matéria de
qualidade, desde que o jornalista realmente queira fazê-la. A maior indignação
não é pelo tanto de matérias que saíram a respeito de um personagem inventando,
mas sim que a grande farsa estava o tempo todo ao alcance e não foi descoberta.
Um filme
genial que aborda várias discussões, desde a crítica maior – a falta de apuração
– até uma crítica secundária, que seria a desumanização dos ambientes
corporativos. Sem dúvida, uma aula e tanto sobre o “ser jornalista”.